quarta-feira, 2 de outubro de 2013

A formação e a atuação


Se hoje sou Mestre em Literatura Portuguesa é porque um dia me sentei num banco para ser alfabetizada, segui até terminar o Ensino Médio, depois fiz vestibular 6 (seis) vezes, entrei pra universidade, depois especialização, entrei e concluí  Mestrado, e isso enquanto vivi, enfim. É uma vida.

E pra que esse esforço todo num país em que, historicamente, a educação é para poucos e o professor não tem valor?

Fui aluna de pré-vestibular comunitário, sem o qual não teria conseguido passar no vestibular. Em retribuição, fui professora de um pré-vestibular comunitário durante o mestrado. Ontem encontrei um dos meus alunos, que agora estuda na UERJ/FFP. É uma das melhores sensações saber que contribuimos com a construção do caminho de outro ser humano. 

Desde pequena eu sei que professores tem um enorme poder de nos ajudar a transformar a vida, a construir caminhos. Certamente é por isso que são tão combatidos os professores. São extremamente perigosos. O diabo é que não se pode formar nem mesmo a mão de obra de que os empresários precisam sem professores.

Me parece que o que se tenta no momento é conseguir que as escolas somente ensinem o necessário para a produção de trabalhadores, mas obrigar os professores a pararem com essa coisa de ficar tentando formas de ensinar "o amais", o fora da apostila tal ou qual, fora do curriculum mínimo. só que não!

sábado, 31 de agosto de 2013

Exercícios, argumentação e o ser humano.


Se eu perguntasse sobre esta imagem, o que pode ser dito? 1) que pode ser uma sessão de fisioterapia; 2) Que é fisioterapia num homem?; 3) Num idoso? 4) Que são dois amigos conversando?; 5) Que ele foi visitá-la no trabalho?. 6) Que ela foi visitá-lo num hospital?

Ainda haveria muitas perguntas que eu poderia fazer, pois, se uma imagem vala mais que mil palavras, ela não responde à pergunta: que palavras?

Este é Renato Artur Nascimento, homem, irmão, pai, marido, professor de História, ex-metalúrgico, Secretário Geral do Sindicato dos Metalúrgicos do Rio de Janeiro na gestão de 1987/1990, comunista e um homem que pensa. Um grande amigo. Sim, ele tem necessidade de fisioterapia por ter sido acometido por SIDEROSE SUPERFICIAL DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL.

Renato tem um bom gosto imenso para música, artes, literatura; desenvolvemos uma pesquisa no âmbito da história do Brasil, tendo como ponto de partida a história das lutas dos trabalhadores metalúrgicos, via seu sindicato.

Ela é sua fisioterapeuta, mas só sei dela a profissão.

Errou quem pensou num inválido. É fundamental que olhemos para as pessoas como pessoas.


domingo, 18 de agosto de 2013

Política faz parte da formação.



Sim, política é fundamental na formação dos cidadãos, e isto não quer dizer que cada pessoa deva estar vinculada a algum partido para isso. Eu estou aproveitando um momento de congresso do meu PC do B para discutir o que me interessa e o que me incomoda, porque militar num partido, como em qualquer organização - inclusive as religiosas, envolve aprendermos a lidar com a divergência e discordâncias.

A formação acadêmica de qualquer pessoa que se disponha a isso deve conter certa diversidade de conhecimentos.  Não é interessante para um matemático não ter conhecimento algum de literatura ou história, por exemplo, visto que o ser humano é complexo,e a vida mais ainda.

Mesmo numa preocupação prática, aumentar nosso repertório é uma grande ferramenta para desenvolvermos melhor nossa atividade em qualquer área, porque com um universo maior de dados pra nossa mente pesquisar e relacionar, é melhor para ter ideias, buscar soluções, se reerguer depois de um erro, viver.

Recomendo que leiam sobre ética em mais de um autor, que conheçam os pensamentos centrais dos partidos existentes em seu país, que interfiram no andamento da sociedade de alguma forma. É parte em sermos parte deste mundo tão organizado em segmentações.

Essa foto nada linda sou eu, num dia rio, tomando um chá e lendo as teses do meu partido, na caminha do meu pequeno e com a coberta de crochê que fiz pra ele ano passado.

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

O que entendemos por formação?


No modelo de sociedade em que vivemos, já faz um certo tempo, temos redes de escolas públicas, mas formação começa em casa, com a convivência familiar no geral, não só com o que é da obrigação dos pais ensinar visando a educação dos filhos. Sendo o ser humano complexo, não podemos esperar que a formação seja algo simples.

Há uma grande parte da tarefa que depende dos esforços do próprio cidadão. Isto diz respeito à leitura de livros, jornais, revistas, a ouvir músicas diversas, a observação de obras de arte de diversos momentos e escolas artísticas, e também técnicas e estilos, e mesmo do conhecimento dos lugares do mundo.

De um modo geral, em nossas escolas públicas não federais, o aluno vai até o final do ensino médio esperando receber conhecimento dos professores.No momento seguinte para os que ingressam na Graduação, deparam-se com a necessidade de modificar essa postura, visto que precisam pegar um ritmo de leituras prévias para serem debatidas em aula, ou pesquisas em laboratório, listas de exercícios de física, matemática, enfim,  é necessária uma nova postura.

O Nobel de literatura José Saramago, que tinha ensino médio técnico, formou-se frequentando biblioteca pública. Na entrega do prêmio, em seu discurso afirmava que seu avô (analfabeto) era o homem mais inteligente que conheceu na vida. Formação necessita muito esforço e interesse pessoal.

sábado, 11 de maio de 2013

Lendo, profissionalmente e para relaxar.

Quando eu estava na graduação, saindo de uma aula de inglês, um colega me "flagrou" no ponto do ônibus lendo um Saramago. Acho que era A CAVERNA. Ele disse pra eu descansar um pouco das tarefas, e respondi que não era tarefa, era distração. Ele acho engraçado, e disse: essa está na carreira correta!

Recentemente, logo depois da defesa do Mestrado em Literatura Portuguesa, comecei a ler o último livro da J. K. Rowling, MORTE SÚBITA. Queria me distrair com algo grandemente diferente da poesia portuguesa, não porque eu não goste dela, ou esteja enfastiada, mas para aproveitar que não tinha uma lista de obras pra ler pro Mestrado, pra escrever algo sobre. Tinha um tempo livre e queria me distrair, lendo...

É claro que, depois que aprendemos a fazer as leituras com certas "técnicas e teorias", não desaprendemos de ler assim nunca, mas não é por isso que ler deixe de ser um prazer ou distração. A literatura fornece muita companhia. Imagina, passar 7 anos acompanhando Harry Potter, a gente se sente colega dos Wisley, do Harry; sente falta do Dumbledore depois do sexto livro e por ai vai. É como ter amigos que moram em outro estado ou país.

Um romance não substitui a convivência com seres humanos de carne e osso; não é possível se sentir abraçado, por exemplo, e um livro não vem falar com você, se não o pegardes, nada de história. Mas como não se perder com Ulisses na ODISSÉIA, depois da guerra de Tróia; como não tramar junto com O CONDE DE MONTE CRISTO aquela vingança; como não se acabar de rir com o Chico no AUTO DA COMPADECIDA.

Essas sensações são tão reais quanto ir ao bar ou passear na rua com alguém.

terça-feira, 16 de abril de 2013

Aprender com o passado, produzir o futuro.

Eu nasci numa época em que não havia vagas na escola para todas as crianças em idade escolar. Quem me conhece há muito tempo já me ouviu dizendo que minha mãe dormiu na fila três dias para conseguir vaga pra minha irmã mais velha. Isso garantiu que nós três frequentássemos a escola pública, pois a escola dava prioridade das novas vagas para as famílias que já tinham posto algum filho na escola. Minha mãe é de um tempo em que mulher raramente ia pra escola, sobretudo no interior - onde ela foi criada. Ela não teve essa oportunidade, por isso dava um valor imenso a que nós recebêssemos instrução escolar.

Na minha família sou a primeira a concluir uma pós-graduação. Meu filho mais velho é o primeiro a frequentar a escola consecutivamente, até entrar pra faculdade. A cada geração vamos conquistando mais avanços, me parece. Mas esta não é a realidade em todo o país de modo uniforme. (Nesse país, enorme, deve ser difícil alcançar uniformidade nos avanços). De lá pra cá muita coisa mudou, o ensino - do ponto de vista das vagas - foi universalizado no nível fundamental, e matricular os filhos entre os 6 e os 17 anos de idade tornou-se obrigatório. Falta agora a qualidade, que é outro patamar de questão.

Essa semana soube que uma ex-aluna que tive quando lecionei num pré-vestibular comunitário entrou para o curso de História, na URJ-FFP. Ela já tem uns 50 anos, é negra, mal remunerada, estudou "fora de época" e, contra toda a expectativa, "chegou lá". Acho muito animador quando vejo pessoas suplantando os destinos "naturais" impostos pelo lugar e status social em que nasceram. E isso não é demonstração de liberdade do capitalismo, mas sim exemplo de que o ser humano pode extrapolar e se superar.

O Brasil está diante de uma mudança importante, que envolve a entrada de pessoas de fora da elite do ensino secundário nas universidades. Um momento de tensão, sem dúvida, como todos os momentos de transição. Uma universidade construída para um público, mudanças no público, e permanência de poucos investimentos e metas industriais desejadas pelo governo no que tange à formação de Mestres e Doutores.

Como sempre dizemos ao lecionar para os alunos do pré, passar no vestibular é uma primeira vitória, mas há de seguir subindo outros degraus.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

MESTRE, com um nove e meio.


Este rapazinho com feições portuguesas na foto é o meu orientador, Luis Maffei. Ele é, realmente, um grande profissional.

No último dia 19 de março, pela manhã, aconteceu a defesa, o momento de encerramento do curso de mestrado por excelência. E é um momento muito importante, pois uma dissertação de mestrado é um trabalho construído ao longo de dois anos, mas que envolve um espectro de elementos maior do que tempo e leituras imediatas, visto que demanda por parte do aluno a formulação, em que é fundamental todo o seu cabedal de informações e experiências.

Há um ano atrás cheguei a pensar que não terminaria, que não valia à pena terminar, devido a certas pedras no caminho, para ser eufemista e lembrar Drummond. E é um grande alívio ter conseguido terminar. O título é importante, mas há uma série de outras questões envolvidas, de maior valor se tenho como perspectiva uma vida inteira e não um mero diploma.

É enriquecedor, mesmo com os percalços, afinal todas as etapas oferecem oportunidades de aprendermos algo, inclusive o que não fazer, em quem não confiar, que caminhos trilhar, em que momento fazer flexões de rumo, sem perder o objetivo.

Agora os estudos sobre Jorge de Sena ganharam um novo tema: TRABALHO E TRABALHADORES.