terça-feira, 16 de abril de 2013

Aprender com o passado, produzir o futuro.

Eu nasci numa época em que não havia vagas na escola para todas as crianças em idade escolar. Quem me conhece há muito tempo já me ouviu dizendo que minha mãe dormiu na fila três dias para conseguir vaga pra minha irmã mais velha. Isso garantiu que nós três frequentássemos a escola pública, pois a escola dava prioridade das novas vagas para as famílias que já tinham posto algum filho na escola. Minha mãe é de um tempo em que mulher raramente ia pra escola, sobretudo no interior - onde ela foi criada. Ela não teve essa oportunidade, por isso dava um valor imenso a que nós recebêssemos instrução escolar.

Na minha família sou a primeira a concluir uma pós-graduação. Meu filho mais velho é o primeiro a frequentar a escola consecutivamente, até entrar pra faculdade. A cada geração vamos conquistando mais avanços, me parece. Mas esta não é a realidade em todo o país de modo uniforme. (Nesse país, enorme, deve ser difícil alcançar uniformidade nos avanços). De lá pra cá muita coisa mudou, o ensino - do ponto de vista das vagas - foi universalizado no nível fundamental, e matricular os filhos entre os 6 e os 17 anos de idade tornou-se obrigatório. Falta agora a qualidade, que é outro patamar de questão.

Essa semana soube que uma ex-aluna que tive quando lecionei num pré-vestibular comunitário entrou para o curso de História, na URJ-FFP. Ela já tem uns 50 anos, é negra, mal remunerada, estudou "fora de época" e, contra toda a expectativa, "chegou lá". Acho muito animador quando vejo pessoas suplantando os destinos "naturais" impostos pelo lugar e status social em que nasceram. E isso não é demonstração de liberdade do capitalismo, mas sim exemplo de que o ser humano pode extrapolar e se superar.

O Brasil está diante de uma mudança importante, que envolve a entrada de pessoas de fora da elite do ensino secundário nas universidades. Um momento de tensão, sem dúvida, como todos os momentos de transição. Uma universidade construída para um público, mudanças no público, e permanência de poucos investimentos e metas industriais desejadas pelo governo no que tange à formação de Mestres e Doutores.

Como sempre dizemos ao lecionar para os alunos do pré, passar no vestibular é uma primeira vitória, mas há de seguir subindo outros degraus.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

MESTRE, com um nove e meio.


Este rapazinho com feições portuguesas na foto é o meu orientador, Luis Maffei. Ele é, realmente, um grande profissional.

No último dia 19 de março, pela manhã, aconteceu a defesa, o momento de encerramento do curso de mestrado por excelência. E é um momento muito importante, pois uma dissertação de mestrado é um trabalho construído ao longo de dois anos, mas que envolve um espectro de elementos maior do que tempo e leituras imediatas, visto que demanda por parte do aluno a formulação, em que é fundamental todo o seu cabedal de informações e experiências.

Há um ano atrás cheguei a pensar que não terminaria, que não valia à pena terminar, devido a certas pedras no caminho, para ser eufemista e lembrar Drummond. E é um grande alívio ter conseguido terminar. O título é importante, mas há uma série de outras questões envolvidas, de maior valor se tenho como perspectiva uma vida inteira e não um mero diploma.

É enriquecedor, mesmo com os percalços, afinal todas as etapas oferecem oportunidades de aprendermos algo, inclusive o que não fazer, em quem não confiar, que caminhos trilhar, em que momento fazer flexões de rumo, sem perder o objetivo.

Agora os estudos sobre Jorge de Sena ganharam um novo tema: TRABALHO E TRABALHADORES.