Na minha família sou a primeira a concluir uma pós-graduação. Meu filho mais velho é o primeiro a frequentar a escola consecutivamente, até entrar pra faculdade. A cada geração vamos conquistando mais avanços, me parece. Mas esta não é a realidade em todo o país de modo uniforme. (Nesse país, enorme, deve ser difícil alcançar uniformidade nos avanços). De lá pra cá muita coisa mudou, o ensino - do ponto de vista das vagas - foi universalizado no nível fundamental, e matricular os filhos entre os 6 e os 17 anos de idade tornou-se obrigatório. Falta agora a qualidade, que é outro patamar de questão.
Essa semana soube que uma ex-aluna que tive quando lecionei num pré-vestibular comunitário entrou para o curso de História, na URJ-FFP. Ela já tem uns 50 anos, é negra, mal remunerada, estudou "fora de época" e, contra toda a expectativa, "chegou lá". Acho muito animador quando vejo pessoas suplantando os destinos "naturais" impostos pelo lugar e status social em que nasceram. E isso não é demonstração de liberdade do capitalismo, mas sim exemplo de que o ser humano pode extrapolar e se superar.
O Brasil está diante de uma mudança importante, que envolve a entrada de pessoas de fora da elite do ensino secundário nas universidades. Um momento de tensão, sem dúvida, como todos os momentos de transição. Uma universidade construída para um público, mudanças no público, e permanência de poucos investimentos e metas industriais desejadas pelo governo no que tange à formação de Mestres e Doutores.
Como sempre dizemos ao lecionar para os alunos do pré, passar no vestibular é uma primeira vitória, mas há de seguir subindo outros degraus.